Alguns meses antes de ser contratado, pessoas que já trabalharam com este menino me alertaram:
"Ele tem transtornos psicóticos." "Ele não fala e é agressivo." "Cuidado! Jamais deixe objetos ponteagudos perto dele, como canetas e tesouras." "Ele agride a própria mãe!" " Ele rasga os cadernos dos colégas e joga est
ojos e mochilas pela janela."
Aqui relato minhas experiências diárias como professor auxiliar num programa de inclusão numa escola pública de uma cidade agrícula no interior do sul do Brasil. Num total de 13 encontros.

Dia 01, segunda feira.

Por ser o primeiro dia de aula com o novo professor, o Menino chegou à escola mais tarde.

Fui apresentado aos professores e colegas do Menino.

Embora não alfabetizado, está incluído numa turma de 6ª série.

Li alguns relatos e pareceres de professores que trabalharam com o Menino, para inteirar-me da situação.

Durante todo o período que estivemos juntos, o Menino não sorriu.

Talvez por saber que não veria mais o antigo professor.

Sou muito tímido e o Menino não fala, então não pude observar nenhuma zona de desenvolvimento proximal.

Pela falta de professor de matemática, tivemos aula no laboratório de informática.

O Menino não gosta de computadores.
Peguei algumas folhas da caixa de papel para rascunho e sugeri que desenhássemos um pouco.

De posse de uma caixa de giz de cera, o Menino rabiscou em três folhas de papel, linhas com zig zags contínuos, como os cardiogramas, apenas no lado em que haviam letras.

Depois juntou as folhas da mesa, inclusive a minha, empilhou-as dando a tradicional batidinha na mesa para emparelhá-las.

Levantou-se e depositou-as na caixa dos papeis para rascunho; retirou, uma a uma, aquelas e outras folhas de papel, voltou e distribuiu as folhas sobre a mesa.

Sentou-se e rabiscou em todas as folhas depositando-as num único monte. Cuidando para rabiscar apenas no verso das rabiscadas anteriormente.

Reuniu todas as folhas e as depositou na caixa de papel para rascunhos repetindo exatamente o proceder anterior.

Então recolheu tudo, organizou as folhas e guardou-as.

Parou na frente da minha classe e gesticulando (cruzando as mãos horizontalmente) avisava que a atividade terminou.

Guardamos o conjunto de giz de cera em sua caixinha e fomos para um banco no pátio esperar o motorista buscá-lo.


   -ele me deu sua maçã da merenda.
   -professores disseram que ele não gosta  de escrever e nem de pegar giz de cera na mão.
   -acho que vamos nos entender bem.

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